A
relação médico-paciente é parte integrante do cotidiano de milhares de
profissionais. Para evitar uma abordagem idealista ou meramente afetiva desta
questão, é necessário investigar como ela está relacionada ao conhecimento
médico e à relação mais geral entre medicina e sociedade. Na verdade, longe de
ser aleatória, esta relação, da forma como foi estabelecida, pode ser vista
como um instrumento de difusão e manutenção do poder dos Planos de Saúde e da instituição médica sobre a sociedade.
Para modificar esta prática, propomos duas abordagens, relativas a campos distintos da prática médica: os campos hospitalar e extra-hospitalar. Na área extra-hospitalar, a humanização da prática médica dependeria, basicamente, de uma formação profissional abrangente, de modo a adaptar o médico às demandas inerentes a esta área, onde o raciocínio fisio-patológico mostra-se freqüentemente limitado. No campo hospitalar, a humanização do ato médico dependeria mais diretamente da atuação integrada de uma equipe multi-profissional.
Para modificar esta prática, propomos duas abordagens, relativas a campos distintos da prática médica: os campos hospitalar e extra-hospitalar. Na área extra-hospitalar, a humanização da prática médica dependeria, basicamente, de uma formação profissional abrangente, de modo a adaptar o médico às demandas inerentes a esta área, onde o raciocínio fisio-patológico mostra-se freqüentemente limitado. No campo hospitalar, a humanização do ato médico dependeria mais diretamente da atuação integrada de uma equipe multi-profissional.
O
assunto da relação médico-paciente (RMP) tem sido tratado extensamente por
numerosos autores. Entretanto, na maioria das vezes, suas análises são lidas e
debatidas por profissionais distantes da prática clínica, o que não deixa de
conferir a estas discussões uma aparência de inutilidade. A Medicina, como
comenta Clavreul (1983), segue indiferente ao que dela se diz.
Para
a maioria dos clínicos, a questão da relação com seus clientes remete
basicamente a algumas aulas da graduação, ou aparece na forma de um discurso
mais ou menos lírico, utilizado em conversas entre colegas, freqüentemente sem
maiores correlações com a realidade vivida nos consultórios e enfermarias.
Mostra-se, desta forma, despossuída de qualquer conteúdo positivo ou intrínseco
às aptidões objetivamente exigidas para o cuidado dos doentes; portanto, um
conceito idealizado. Por outro lado, boa parte das críticas dirigidas à forma
como se estabelece usualmente esta relação carece igualmente da proposição de
alternativas factíveis dentro da realidade cotidiana dos profissionais de saúde
e, portanto, compartilham da mesma ilusão idealista.
Um
exemplo bastante prático disto é a abordagem do aspecto afetivo da RMP. Ora, a
afetividade existe inevitavelmente, na medida em que ela se refere a um contato
entre pessoas, embora concordemos com Sartre (Birman, 1980) quando considera a
relação com o médico como um fato original, diferenciado das características
das outras relações, o que certamente não invalida a afirmação anterior. Desta
forma, por mais que se procure manter um distanciamento, sentimentos estarão
sempre presentes, nas mais variadas formas, como afeição, empatia, antipatia,
aversão, medo, compaixão, erotismo, etc. Pode ocorrer uma negação desta
realidade por parte de alguns profissionais, enquanto outros, ao contrário,
tendem a reduzir a RMP exclusivamente ao seu conteúdo afetivo, definindo-a a
partir de categorias como amizade, carinho, etc. Não pretendemos menosprezar
este aspecto da RMP. Entretanto, parece-nos mais adequado aceitar simplesmente
o caráter imprevisível dos afetos presentes na consulta, na medida em que
envolvem um campo alheio à racionalidade humana. É um pré-conceito considerar
que o médico deva ser amigo ou gostar de seus pacientes. Este pré-conceito é
incapaz de dar conta da prática clínica concreta, e reduzir a RMP a uma questão
afetiva significa esvaziá-la de qualquer conteúdo instrumentalizável,
destinando-a ao universo do aleatório. Aleatório aqui não significa, de modo
algum, neutro, porque, na verdade, este esvaziamento ajuda a encobrir outros
mecanismos bem mais sutis onde a RMP, da forma como é estabelecida, segue
produzindo seus efeitos no indivíduo e na sociedade.
De
todo modo, talvez pelo fato de atuarmos na clínica médica, temos a esperança
de, mesmo de forma bastante restrita, contrariar a tradição de distância entre
este debate e a prática médica, e levantar questões que atendam aos interesses
dos colegas e colaborem com sua atividade profissional. É, portanto, uma
intenção pragmática que justifica este texto, mesmo considerando que os
aspectos levantados mereceriam um tratamento por um viés mais teórico.
Para
maiores informações entrar em contato através do e-mail: contato@portalsaude.org ou pelos telefones:
(11) 5044.2433 / 9905.6373.