Com custo de R$ 6 mil,
exame para detecção de mutações e prevenção da doença ainda não é oferecido
pela rede pública e privada brasileira. A
revelação feita ontem pela atriz americana Angelina Jolie de que fez uma dupla
mastectomia para reduzir as chances de ter câncer de mama desencadeou um debate
no Brasil sobre a realização de testes genéticos para a detecção de mutações
que podem aumentar o risco da doença. Com custo avaliado em R$ 6 mil, o exame
ainda não é ofertado pela rede pública de saúde e os planos de saúde também
ignoram o fato.
Estudos mostram que o
câncer de origem genética não é raro. "No caso do câncer de mama, a taxa é
de cerca de 10% e as mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 respondem por cerca 70%
de todos os casos hereditários de câncer de mama e ovário", afirma Maria
Isabel Achatz, diretora de Oncogenética do A.C. Camargo Cancer Center (novo nome
do Hospital A.C. Camargo). Com a mutação, o risco de desenvolver câncer de mama
ao longo da vida pode variar de 40% a 90%, explica Carlos Alberto Ruiz,
presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia. Na população em geral, esse
índice fica em torno de 5%. Segundo especialistas ouvidos pelo Estado, diante
do diagnóstico de mutação genética, a maioria das mulheres opta por retirar as
mamas. "Elas programam essa decisão e geralmente se submetem ao
procedimento depois de amamentar seus filhos", afirma Marcelo Sampaio,
cirurgião plástico do Hospital Sírio-Libanês.
O método deve ser encarado
como opção porque é o único que vai reduzir em até 95% a probabilidade para o
desenvolvimento do câncer em portadores da mutação.
Exame. O teste genético que
identifica o maior risco de desenvolver a doença está, aos poucos, se
popularizando no Brasil, mas só em pacientes que podem arcar com os custos de
uma clínica particular. Há dois anos, o Departamento de Aconselhamento Genético
do Sírio-Libanês, por exemplo, realizava cerca de três a cinco testes por mês.
Hoje, são oito a dez por semana. Adriana Leocadio, representante da ONG Portal
Saúde ressalta que o acesso a evolução da medicina preventiva não pode ser
restrita a poucas pessoas com condições financeiras para custear. Nossa
recomendação para quem tem plano de saúde e quer realizar esse exame, consultem
seus direitos. "Hoje, esse tipo de exame
pode diagnosticar o risco de desenvolver não apenas câncer, mas outras doenças,
como lúpus.", comenta Leocadio.
O resultado positivo do
teste, porém, apenas sugere o procedimento cirúrgico. Há mais opções. "Uma
saída é fazer um acompanhamento mais frequente, com exames de seis em seis
meses que permitirão o diagnóstico precoce de tumores, como a mamografia e a
ressonância magnética", afirma Maria Isabel Achatz.
Menopausa. Mulheres com
mutação genética podem ainda escolher tomar um bloqueador hormonal como forma
de prevenção. "A medicação reduz em cerca de 20% o risco de a paciente ter
a doença", diz o mastologista Antonio Luiz Frasson, do Hospital Albert
Einstein. Mas há efeitos colaterais. Quem toma adianta a menopausa.
E há outros fatores a serem
levados em consideração. Maria Isabel Achatz ressalta, por exemplo, que a
orientação das sociedades médicas americanas, que servem como guia no Brasil, é
que, em primeiro lugar, sejam retirados ovários e trompas. "Ao contrários
das mamas, os ovários são mais difíceis de acompanhar por exame médico. E sua
retirada já reduz em 50% o risco de câncer de mama. A mastectomia, por sua vez,
não reduz o risco nos ovários."
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